You Tube underground

Vídeos trash e alternativos dominam a produção brasiliense no portal


Brasília sempre teve uma vocação para o trash. O legado do bombeiro e cineasta Afonso Brazza, cultuado por produções como “Inferno no Gama” e “Fuga sem Destino”, persiste. É o que prova a produção brasiliense no maior site de compartilhamento de vídeos do mundo, o You Tube.

Tendo uma média de 50 milhões de acessos mensais, o portal virou uma verdadeira febre entre os internautas. Vídeos como “Tapa na Pantera” ou “Fernando Vanucci Bêbado”, com suas dezenas de milhares de acessos, contribuíram muito para a sua popularização no Brasil. O desejo de aparecer ou de divulgar trabalhos e raridades faz com que milhares de brasileiros contribuam com boa parte dos 65 mil vídeos que diariamente são acrescentados.

Dos produzidos na Capital Federal, destaca-se a produção de microfilmes trash e underground. “Demência” é um deles. Trata-se de um projeto experimental do ator Lauro Montana, que interpreta as divagações de um personagem em plena catarse emocional contra a hipocrisia da sociedade. A atuação de Montana é tão convincente que um dos visitantes do site confundiu a ficção com a realidade e, sentindo-se ofendido, mandou uma mensagem agressiva ao ator. Lauro diz não se importar com esse tipo de coisa: “Já me chamaram de fascista, de machista, de tanto ‘ista’, mas eu já esperava que isso acontecesse. Não me enchendo o saco enquanto eu tiver tomando a minha skol, tá de boa”.

Vencedor do kikito de melhor ator no Festival de Gramado de 2005 com o filme “Seqüestramos Augusto Cezar”, Montana utiliza o You Tube como forma de divulgar sua obra. “É uma ótima ferramenta para quem tem trabalhos em vídeo e não dispõe de muita grana para divulgá-los” – diz - “é uma televisão seletiva, o melhor instrumento de divulgação pra quem não curte muito a TV aberta”.

Outro hit brasiliense no You Tube é a série “É Nóis (It’s We)” “É Nóis (It’s We)”, composta de 7 microfilmes sobre a saga de Cavalcante e Linhares, dois “tiras” em busca de vingança. No enredo, muitos tiros e violência nas cidades de Tagua York e Gama City, com destaque especial para as legendas em inglês.

O primeiro vídeo da série foi produzido para concorrer ao Festival U de 2005 e ganhou o primeiro lugar na eliminatória de Brasília. A partir daí, Luiz “Espalha Lixo” eniversitário do Minuto Fábio “Macumba”, fundadores da CúCão Filmes, resolveram filmar mais dois episódios para exibir para os colegas em cineclubes e listas de e-mail. “Procurávamos um canal de divulgação” – diz Alex Vidigal, um dos integrantes da produtora – “descobrimos o You Tube e resolvemos fazer toda a série para o site”.

Luiz “Espalha Lixo” ficou muito entusiasmado com o sucesso repentino dos vídeos. Conta que passou a ser parado por fãs nas ruas e a receber convites para fazer videoclipes de banda locais, como a Dissônicos. “Com o You Tube a gente viu que com esforço e dedicação podemos chegar bem mais longe” – comemora. Mais 6 capítulos estão previstos antes da conclusão de “É Nóis”.

Mas nem só de trash se faz um site. Muitas são as razões que levam os usuários do You Tube a fazer o upload de seus vídeos. O estudante de publicidade Vinícius “Rastro” de Almeida, por exemplo, o utiliza para “compartilhar experiências”, no seu caso, manobras de yoyô. Já o educador André Luis aproveita o portal para divulgar suas produções caseiras, entre elas um bizarro videoclipe da música Macho Man.

“Catedral Rosa” é outro destaque brasiliense. Trata-se da filmagem de um fato que recebeu pouco destaque na mídia: o “terrorismo cultural” praticado por um grupo anônimo de jovens candangos sobre a Catedral de Brasília. Posicionando filtros rosados sobre os refletores que a iluminam, os jovens fizeram com que o monumento deixasse o seu branco habitual para tornar-se inteiramente rosa por cerca de 3 minutos. “Estamos vendo como foi fácil pintar de rosa o concreto modernista de Niemeyer. Difícil é pintar a rigidez e os valores dos cidadãos contemporâneos” – disse um dos integrantes do movimento no site Mídia Independente.


Os 10 mandamentos para se fazer um filme trash:

1- Veja todos os filmes de Afonso Brazza
2- Não gaste mais do que 100 reais na produção do filme
3- Contrate maus atores (amigos, vizinhos, primos, etc)
4- Monstros são ótimos coadjuvantes
5- De cada 10 palavras, 8 são palavrões
6- Use e abuse de efeitos especiais de gosto duvidoso
7- Sangue é um elemento indispensável. Quantos mais litros de groselha, melhor
8- Em momentos críticos, lembre-se de fazer rápidos zooms em direção à expressão
das personagens
9- Se for utilizar-se de legendas, providencie para que elas estejam completamente
dessincronizadas do áudio
10- Tudo o que você precisa é de uma câmera na mão e uma idéia sem noção


(Texto escrito para a edição impressa do Campus - Jornal laboratório dos estudantes de jornalismo da UnB)

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