O Rei dos Pífanos



Francisco Gonçalo da Silva, mais conhecido como “Zé do Pífano”. Este é o nome do simpático nordestino vendedor de pífanos que vira-e-mexe pode ser visto na frente do Restaurante Universitário da UnB, entre as quadras do Plano Piloto, na Praça do Relógio ou na Galeria dos Estados. Sempre com um chapéu na cabeça, óculos hi-ban e a fiel companhia de suas flautas – fabricadas por ele mesmo – uma nas mãos e as outras na sacola.

No repertório, Asa Branca, Óia eu aqui de novo e A Volta da Asa Branca, entre muitos outros sucessos do forró e do baião. O som de seu pífano nos transporta para um outro mundo – um mundo mais simples, mas não menos difícil. Pelo contrário, um mundo em que é preciso tirar leite de pedra para sobreviver. Um mundo onde só a música e o namoro podem trazer um pouco de alegria aos sôfregos trabalhadores.

E foi assim que começou a trajetória de nosso “zé”. Francisco da Silva nasceu em São José do Egito, interior de Pernambuco, e desde cedo conheceu a amargura da pobreza, já aos 10 anos tendo que trabalhar na roça para ajudar a família. Mas o interesse de Zé sempre foi outro, e ficava claro quando as bandas de pífanos da região visitavam sua cidade, seja nas novenas de maio ou nas festas de junho.

Tal era o interesse de Francisco que, ainda criança, fabricou, sem a ajuda de ninguém, o seu primeiro pífano, de “talo de jerimum”. E com ele mesmo foi tirando as suas primeiras notas e aprendendo sozinho a tocar o instrumento que viria a tornar-se o seu meio de vida. Seu empenho era tão visível que Pedro Ventura, um velho “pifeiro” da região, presenteou-lhe com um pífano de verdade, para que desenvolvesse melhor o seu talento.

Assim foi que Francisco da Silva passou de admirador a “pifeiro” profissional, formando ele mesmo a sua banda e saindo a tocar de cidade em cidade no sertão de Pernambuco. Em 1973 deixa o seu estado para tentar uma vida melhor na cidade de São Paulo, onde arranja diversos empregos, de pedreiro a marceneiro. Sempre tendo como atividade paralela a música e a produção e venda de suas flautas. Já por essa época abandona seu nome de batismo para passar a ser conhecido como “Zé do Pífano”. De show em show e de andança e andança, vai tornando-se figura popular e aparece em toda sorte de programas de auditório, como Chacrinha, Raul Gil e Sílvio Santos.

Há cerca de quinze anos em Brasília, seu Zé sobrevive hoje exclusivamente de shows e da venda de seus pífanos. Quando perguntado sobre o porquê de ter deixado sua terra natal, Seu Zé diz que é o gosto pela aventura: “gosto de conhecer o mundo de meu Deus, que é muito bonito. Se eu pudesse só vivia andando e passeando, conhecendo a natureza e as coisas bonitas que têm na terra”. Mas, de quando em quando, Seu Zé volta para visitar sua cidade, e se mostra decepcionado com a falta de interesse dos jovens em aprender a arte do pífano. Ainda assim, preocupado em manter a tradição, sempre que vai a São José do Egito distribui flautas às crianças e diz: “Vê se aprende, que isso não pode acabar!”.

Para o jornalista Jorge Frederico, da Agência Senado, a figura de músico ambulante representada por Seu Zé está fadada a desaparecer, dado o modelo de sociedade em que vivemos. “O Zé tá vinculado a uma tradição que tá desaparecendo, a tradição dos artesãos, dos saltimbancos, das feiras” – diz – “é muito difícil, hoje em dia, para o pífano competir com o som dos ônibus e automóveis”. Mas o jornalista confessa achar genial o trabalho do “pifeiro” e acredita que, em meio ao caos urbano, o pífano é um instrumento consolador.