A Defesa do Capitalismo


Como vivemos em um ambiente cultural essencialmente esquerdista, uma das coisas estranhas com que os dissidentes têm que conviver é a idéia de que quem defende o sistema econômico capitalista só pensa em dinheiro e é insensível aos problemas da pobreza e da miséria. Talvez isso possa ser verdade para um ou outro empresário que, desconhecendo por completo as histórias do comunismo e da formação do capitalismo, deseja apenas enriquecer utilizando-se dos instrumentos de que dispõe em uma economia de livre-mercado. Muitos deles, inclusive, apóiam alegremente candidatos com propostas comunistas ao mais leve sinal de vantagem imediata, desconhecendo o próprio risco que correm em um futuro nem sempre tão distante – e é exatamente o que ocorre atualmente no Brasil.
No entanto, para a nova direita intelectual em formação no país, defender o capitalismo não tem absolutamente nada a ver com insensibilidade à pobreza ou a defesa de lucros pessoais. Ao contrário, assumem a defesa do capitalismo porque sabem, ao contrário dos comunistas, que não existe fórmula mágica para acabar com a miséria, e que a melhor forma de gerar riqueza é o sistema do livre-mercado.
Isso não é uma questão de opinião. Em nosso país, perdeu-se quase que por completo a noção de verdade: muitas pessoas não conseguem distinguir mais entre o que é uma opinião e o que é um fato. Você diz: “O presidente Lula assinou em 2001 um manifesto de solidariedade às FARC, dizendo ser ‘terrorismo de Estado’ o que o governo da Colômbia faz para dizimá-las”. Isso é um fato, por mais que tenha sido praticamente esquecido pela mídia. Aí vem o interlocutor e diz: “Não concordo com a sua opinião”. Mas a opinião nem foi dada ainda! Este tipo de episódio exemplifica bem o estado das coisas.
Mas, voltando ao capitalismo. Nunca antes, em toda a história da humanidade, houve um número tão grande de pessoas que gozassem não só de boa alimentação diária, mas também de uma série de confortos impossíveis até mesmo a reis e imperadores de outrora. O próprio fato da população ter crescido exponencialmente com o advento do capitalismo devia ser necessário para que qualquer pessoa em sã consciência pudesse chegar à conclusão de que este sistema é bom e benéfico ou, pelo menos, é infinitamente superior aos anteriores. A população não cresceu porque os operários estressados, tadinhos, passaram a transar mais com suas esposas e a gerar mais filhos, como a nossa professorzinha semi-analfabeta da quarta série pode ter nos contado. A verdade é que, com o advento das fábricas e da eficiência proporcionada pela divisão do trabalho, uma legião de crianças que simplesmente pereceria por falta de insumos básicos tiveram uma chance de viver. Ainda que para que isso tivessem que trabalhar na insalubridade das primeiras fábricas.
Não, não é nada bonito que crianças tenham que trabalhar para garantir a própria sobrevivência. Mas será que é mais bonito deixar elas perecerem por não ter outra alternativa? Não, não estou defendendo o uso de mão-de-obra infantil. Estou apenas desmistificando um dos maiores mitos anti-capitalistas – e dizendo que as crianças que trabalharam no início da Revolução Industrial o fizeram simplesmente porque não tinham outra alternativa. A outra alternativa seria morrer. Elas não morreram, e a população explodiu. Sim, a vida não é uma maravilha, mas é o que é.
Ao contrário do que gritam nossos estudantes e a elite “intelequitual” brasileira, o capitalismo é também o único sistema em que é impossível enriquecer honestamente sozinho: se você enriquece montando um negócio, obrigatoriamente leva progresso e emprego para onde a sua empresa for. Não dá pra fugir dessa regra. E essa é justamente a melhor forma de se combater a pobreza: levar emprego e dignidade às pessoas.
Sim, no capitalismo haverá sempre o “problema” da desigualdade social. Mas é importante notar, e isso talvez um esquerdista nunca consiga entender, que a desigualdade não é um problema por si só: a pobreza é que é um problema. Divulga-se muito que a globalização aumentou a desigualdade entre ricos e pobres no mundo, mas o que costuma ser esquecido é que a pobreza também diminuiu, e muito, nesse período. Ou seja, pobreza e desigualdade social são duas coisas distintas: os ricos podem ficar cada vez mais ricos, ao mesmo tempo em que os pobres ficam menos pobres. O fato de que aumenta a distância social dos mais abonados em relação aos menos não quer dizer que os menos também não estejam melhorando sua situação. Na verdade, o que acontece é exatamente isso: nos lugares onde há maiores fortunas pessoais, como nos Estados Unidos, por exemplo, é onde a população goza de melhor nível médio de vida. Também foi isso o que aconteceu no Brasil, durante o chamado “milagre econômico”. A esquerda gosta de salientar o “agravamento das desigualdades”, mas o fato é que o “milagre” tirou 30 milhões de brasileiros da linha da miséria.
A este primeiro fato – o da melhoria considerável da qualidade de vida que o processo de industrialização trouxe e traz, fato este que nem os marxistas ortodoxos negam - é necessário juntar também o fato de que todos os países que adotaram o planejamento total da economia fracassaram. Isso não é de maneira alguma uma “deturpação da idéias originais” de Karl Marx, mas sim tentativas de aplicar essas idéias à realidade, tal como formuladas por ele. No Brasil, é muito comum ouvir-se que o socialismo não deu certo porque “não foi aplicado direito”, ou porque “as pessoas ainda não estão preparadas para isso”. Balela. O socialismo está errado desde o início, desde a sua concepção. Desde os seus conceitos fundamentais – "mais-valia", "valor intrínseco da mercadoria", "luta de classes como motor da história", etc. Está errado em considerar que todas as pessoas são iguais e deveriam ganhar por igual, está errado em desprezar as diferenças fundamentais dos seres humanos e, por fim, está redondamente errado em achar que a engenharia social pode resolver os problemas materiais E espirituais do homem.
Uma vez que abandonamos a proposta comunista, tanto por seus graves erros intrínsecos (teóricos, não explicados neste artigo) quanto pela constatação óbvia de seu fracasso enquanto experiência histórica, e descartando também os demais sistemas totalitários e/ou utópicos, não nos resta outra coisa senão aceitar o capitalismo como o melhor sistema econômico possível e trabalhar na intenção de aperfeiçoá-lo e encontrar e suprir as suas lacunas. E isso definitivamente não acontecerá em algum esdrúxulo “meio termo entre o socialismo e o capitalismo” – que sempre resulta em inchaço do Estado, ineficiência e corrupção – e é exatamente o que ocorre no Brasil.
O mais adequado seria adotar um sistema liberal, com a maior liberdade de mercado possível. Isso significa menos impostos, menos regulação, menos interferência do governo na economia, privatização de empresas, extinção de subsídios e menos "benefícios sociais". Esta é a fórmula do desenvolvimento, já parcialmente experimentada pelas grandes economias do planeta, inclusive a da China, que é politicamente comunista.
No mais, tenho plena consciência do quanto é impopular e politicamente incorreto ser a favor de “tão vil e explorador sistema” por essas terras. No entanto, na minha escala de valores, a “Verdade” se encontra acima da “aceitação social”. E, sendo jornalista, não posso deixar de divulgar o que vejo claramente como sendo a verdade, quer gostem ou não, concordem ou não.